O Prof. Dr. Jorge Vasconcellos,  da Universidade Federal Fluminense/UFF, reafirma em aula magna do Programa de Pós-Graduação em Ensino — proferida em 16 de agosto na UFF (turma 2021) —, que “as práticas políticas instituídas por um povo preto porvir se fazem não por um projeto revolucionário de tomada do Estado branco, mas por um devir-quilombista da política”. Portanto retoma e avança a vertente ativista/conceitual já explicitada em texto anterior (Fabulações políticas de um povo preto porvir, um devir-quilombista de uma manifestação em tempos de pandemia).

Manifestações no Rio de Janeiro contra o governo de Jair Bolsonaro, pela democracia e contra o fascismo e o racismo que ocorreram em (7/6/20).

Jorge Vasconcellos, professor do Departamento de Artes e Estudos Culturais/RAE começou valorizando a oralidade e apresentou o eixo de discussão a partir da seguinte indagação: “como a prática quilombista pode levar a uma prática anti-racista ?“.

A título introdutório, ele lembra que a partir de 2013 deixa de se denominar filósofo para se auto-denominar teórico/ativista, na media em que “todo ativismo é coletivo (…) e não dá para discernir a prática de pensamento da prática política”. Ou seja, praticar a teoria e ativá-la ao mesmo tempo num campo de forças, articulados a uma vida coletiva, comunitária e colaborativa. Essa passagem é fundamental para entendermos o que ele define por devir-quilombista. “A nossa singularidade é exorbitante. E os debates étnico-raciais estão cada vez mais radicalizados. O que é ser uma mulher negra, o que é ser um homem negro indígena, o que é ser uma pessoa trans sem cair no identitarismo essencialista ?”.

Para Vasconcellos, é preciso criar formas que não sejam apenas um processo identitário ou identificador do marcador étnico-racial, mas processos pelos quais também nos organizamos vinculados e atravessados por esses marcadores étnico-raciais. “E qual a forma historicamente mais bem construída e poderosa que a sociedade brasileira nos apresentou como contra-poder às formas de poder de opressão do tráfico atlântico? A ideia de Quilombo“, conclui.

Maria_Beatriz_Nascimento

Defendendo que sejamos atravessados pela lógica quilombola, Vasconcellos parte dos importantes autores Maria Beatriz Nascimento (imagem à esq.) e Abdias Nascimento, além das influências dos filósofos franceses Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault — que Vasconcellos considera os pensadores mais progressistas da segunda metade do séc.XX, mas ainda assim são “europeus, brancos e lidam com questões muito deferentes das nossas”.

Para o pensador negro Abdias Nascimento o quilombismo é um conceito científico, histórico e social. Já para Beatriz Nascimento, no importante texto “O conceito de quilombo e a resistência cultural negra” (Afrodiáspora Nos. 6-7, pp. 41–49. 1985), o quilombo é ao mesmo tempo:

1)Indivíduo: processo de individuação.

2)Território de guerra.

3)Processo de iniciação.

4)Espaço de liberdade.

Portanto é mais do que aquele espaço fundamental para onde foram os negros escravizados e depois criaram estratégias para se desvincularem das investidas coloniais. O quilombo é rito, casa, cidade, somos todos nós.

A íntegra da aula pode ser acompanhada abaixo.

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